quarta-feira, 25 de julho de 2012

Minha experiência "épica"

Muitas vezes, em sala de aula, usamos estratégias de ensino pouco convencionais para atingir positivamente (seduzir, desafiar, provocar, comover) nossos alunos.

Você já fez isso? Algum professor já fez isso com você?

Então conta pra gente: você já viveu um momento “épico” de ensino e aprendizagem, de um lado ou de outro da cena? Como aluno ou professor? Relate essa experiência!

***********************************************************************************
Oi!

Parei um minuto para pensar sobre coisas e me veio a mente, um trabalho que realizei com uma turma de Educação de Jovens e Adultos, foi uma leitura deleite, onde uma agulha e uma linha discutiam quem era a mais importante, mostrando-se orgulhosas de seus feitos, porém desprezando as virtudes uma das outras, metáfora perfeita da agulha e da linha e eu não vou passar sem dividir com vocês, né?

Considerei-a épica, pois quando terminei de contar a metáfora, a turma inteira me aplaudiu de pé, o que me deixou muito emocionada.

A estratégia foi a motivação com que eu contei a história, quase que dramatizando-a para que eles pudessem estabelecer analogias e entender a mensagem da história.

Primeiramente, estabelecer meta, objetivo e pré-requisitos para reproduzir essa experiência através de material educacional impresso que promova a reflexão (processamento) e a aplicação (prática) do conhecimento. Privilegiando cinco elementos: texto claro; rápido; consistente e que ofereça conexões e que seja dialógico.

A agulha e a linha
Adaptação de Pedro Bandeira do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis
Era uma vez, dentro da caixinha da costureira de uma baronesa, uma agulha que
disse à linha de um novelo:
– Por que você está com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
– Deixe-me, senhora.
– Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?
Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
– Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça.
Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua
vida e deixe a dos outros.
– Puxa, como você é orgulhosa!
– Decerto que sou.
– Mas por quê?
– É boa! Por que costuro. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que
os costura, senão eu?
– Você? Essa agora é melhor. Você que os costura? Você ignora que quem os costura
sou eu, e muito eu?
– Você fura o pano, nada mais. Eu é que costuro, prendo um pedaço ao outro, dou
feição aos babados...
– Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando você, que
vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
– Também os batedores vão adiante do imperador.
– Você, imperador?
– Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante.
Vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo,
ajunto...
Estavam nisso, quando a costureira da baronesa pegou o pano, pegou a agulha,
pegou a linha, enfiou a linha na agulha e entrou a costurar. Entre os dedos da costureira,

uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas. E

dizia a agulha:

– Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que essa

distinta costureira só se importa comigo? Eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha

a eles, furando abaixo e acima...

A linha não respondia nada. Ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido

por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz e não está para ouvir palavras

loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também e foi andando. E

era tudo silêncio na saleta de costura. Não se ouvia mais que o plic-plic-plic da agulha no

pano. Caindo o sol, a costureira terminou o trabalho.

Veio a noite e, enquanto a baronesa vestia-se para o baile, a linha, para caçoar da

agulha, perguntou-lhe:

– Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte

do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto

você volta para a caixinha da costureira? Vamos, diga lá.

Parece que a agulha não disse nada. Mas um alfinete, de cabeça grande e não

menor experiência, murmurou à pobre agulha:

– Ande, aprende, tola. Cansaste de abrir caminho para ela e ela é que vai gozar a

vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para

ninguém. Onde me espetam, fico.

Contei essa história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:

– Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Abraço!!

Glenda

Nenhum comentário:

Postar um comentário